Quando María Corina Machado, ativista da oposição venezuelana e engenheira industrial, recebeu o Nobel da Paz nesta sexta‑feira, 10 de outubro de 2025, o mundo político deu um salto inesperado. Comitê Norueguês do Nobel anunciou a premiação às 21h01 (UTC), ressaltando sua luta pela unificação da oposição contra o regime de Nicolás Maduro. O gesto, porém, trouxe críticas incisivas de figuras como o historiador Greg Grandin e levantou suspeitas sobre o envolvimento de Donald Trump, presidente dos EUA na segunda fase de seu mandato.
Contexto político na Venezuela
Desde 2002, quando Machado fundou a ONG de observação eleitoral Sumate, a Venezuela atravessa uma crise institucional sem precedentes. Eleita para a Assembleia Nacional em 2010 com a maior votação daquele pleito, Machado tornou‑se a voz mais rude contra abusos do governo de Maduro, denunciando repressão, colapso econômico e uma onda de migrações. Em 2014, após pronunciar‑se no Conselho Permanente da Organização dos Estados Americanos (OEA) em Washington, foi expulsa arbitrariamente da Assembleia por Diosdado Cabello, então presidente do órgão, violando o devido processo.
Em 2013, Machado assumiu o cargo de Coordenadora‑Nacional da Vente Venezuela, movimento liberal que luta por eleições livres e pela restituição da democracia. Desde 2017, colabora com a plataforma SoyVenezuela, ao lado de figuras como Antonio Ledezma e Diego Arria, ampliando a projeção internacional da oposição.
O prêmio Nobel e a reação internacional
A decisão do Nobel foi anunciada em Oslo, na presença da jornalista Oscar Shanker, da Deutsche Welle (DW). Shanker descreveu Machado como "um verdadeiro símbolo de resistência" e elogiou sua história de protestos pacíficos. Já Greg Grandin, professor da Yale e premiado com o Pulitzer, classificou a escolha de "perplexa", alegando que Machado está alinhada com a faceta mais militarista do imperialismo dos EUA.
O fato de que o então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, teria manifestado apoio público ao prêmio – embora sem esclarecer se defendia Machado ou sua própria candidatura a futuros Nobel – alimentou teorias de que a honraria seria usada como ferramenta de pressão geopolítica contra Caracas.
Implicações para a política venezuelana
- Legitimidade internacional: O Nobel pode abrir novas vias diplomáticas para a oposição, facilitando diálogos com governos ocidentais.
- Risco de repressão: Maduro, já habituado a rotular opositores como "terroristas", pode intensificar a perseguição, como fez após a expulsão de 2014.
- Divisão interna: Enquanto alguns veem o prêmio como reconhecimento merecido, outros temem que a vitória externa agrave fissuras dentro da coalizão oposicionista.
Além disso, Machado tem defendido a sanção americana contra a Venezuela e a privatização da estatal de petróleo Petróleos de Venezuela, S.A. (PDVSA). Caso a comunidade internacional responda ao Nobel com medidas econômicas, o país pode enfrentar mais escassez – já que a inflação de 2023 ultrapassou 1.200 % – ou, ao contrário, pode receber investimentos externos se houver abertura política.
Reações dentro da Venezuela
Em Caracas, a notícia chegou dividida. Grupos pró‑governo organizaram manifestações contra o “interferência estrangeira”, citando a frase de Grandin sobre "imperialismo" como prova de que o Nobel serve a interesses externos. Por outro lado, lideranças da oposição, como o substituto de Machado na corrida presidencial, Edmundo González Urrutia, saudaram a decisão como "um eco da esperança" para milhões de venezuelanos que aguardam eleições justas.

Próximos passos e cenários possíveis
Nos próximos meses, o Comitê Nobel pode ser pressionado a justificar detalhadamente sua escolha, enquanto a comunidade diplomática observará se haverá negociação entre Caracas e Washington. A ONU já indicou que pretende enviar observadores ao próximo pleito presidencial, previsto para 2028, mas a efetividade desses esforços ainda depende da estabilidade interna.
Se o prêmio impulsionar um diálogo real, a Venezuela poderia, em teoria, transitar para um governo de coalizão, similar ao que ocorreu na Tunísia após a Revolução de Jasmim. Caso contrário, o cenário mais provável é de maior endurecimento da repressão e escalada de sanções, com consequências humanitárias ainda mais graves.
Fatos-chave
- Data da premiação: 10/10/2025, às 21h01 (UTC).
- Premiada: María Corina Machado, 58 anos, venezuelana.
- Entidade concedente: Comitê Norueguês do Nobel.
- Motivo: “Promoção dos direitos democráticos e unificação da oposição venezuelana”.
- Reações: elogios de Oscar Shanker (DW) e críticas de Greg Grandin (Yale).
Perguntas Frequentes
Como o Nobel da Paz pode afetar a oposição venezuelana?
O reconhecimento internacional pode legitimar a oposição, facilitando diálogos com governos ocidentais e atraindo apoio financeiro. Contudo, também pode provocar retaliações do governo de Maduro, que já rotula críticos como agentes estrangeiros.
Por que Greg Grandin critica a escolha do Nobel?
Grandin argumenta que Machado está alinhada com políticas dos EUA que favorecem a intervenção militar e econômica na Venezuela, vendo o prêmio como um sinal de apoio implícito ao imperialismo americano.
Qual a relação de Donald Trump com o prêmio?
Trump, que iniciou seu segundo mandato em janeiro de 2025, teria mencionado publicamente sua admiração pelo Nobel, mas nunca especificou se defendia Machado ou usava o prêmio para elevar sua própria agenda política.
A premiação pode influenciar as sanções contra a Venezuela?
É provável que os EUA e a UE usem o Nobel como justificativa para intensificar sanções econômicas, já que Machado apoia a privatização da PDVSA. Por outro lado, aliados podem pressionar por concessões políticas em troca de alívio.
Qual o próximo passo para a democracia na Venezuela?
Observadores da ONU e da OEA podem buscar um acordo para eleições transparentes em 2028. O sucesso dependerá da capacidade da oposição de transformar o impulso do Nobel em processos políticos concretos.
celso dalla villa
Premiar Machado pode abrir portas diplomáticas, mas também arrisca mais repressão.
Valdirene Sergio Lima
Os fatos apresentados revelam, de maneira inequívoca, que a concessão do Nobel da Paz a María Corina Machado transcende a mera celebração individual; constitui, antes, um marco simbólico que, ao mesmo tempo, legitima a oposição venezuelana perante a comunidade internacional, ao passo que potencializa a narrativa de intervenção externa, a qual, historicamente, tem sido fonte de controvérsia, sobretudo quando comparable aos episódios de geopolítica do final do século XX. Assim, é imperativo que analistas, ao ponderarem sobre as repercussões diplomáticas, considerem tanto os benefícios potenciais – tais como a ampliação de canais de negociação – quanto os riscos latentes de intensificação de repressão estatal.
Eduarda Antunes
É bacana ver que o Nobel pode trazer mais visibilidade para a luta por eleições livres; quem sabe isso inspire outras lideranças a buscar soluções pacíficas e a pressionar por reformas institucionais sem recorrer à violência.
Raif Arantes
Essa jogada do Nobel não passa de um esquema de manipulação estratégico, um verdadeiro “soft power” usado pelos EUA para inserir um peão na arena venezuelana; a escolha de Machado, alinhada aos interesses de privatização da PDVSA, demonstra claramente que há uma agenda oculta de desestabilização econômica e militar, reforçada por narrativas de “democracia” que mascaram intenções imperialistas.