A NBA China Games 2025 marcou o retorno da liga norte-americana à China após seis anos de ausência, com dois jogos de pré-temporada entre os Phoenix Suns e os Brooklyn Nets realizados no Venetian Arena, em Macau. O primeiro jogo, em 10 de outubro de 2025, terminou com vitória dos Suns por 132-127 após prorrogação — uma recuperação impressionante após estarem 18 pontos atrás. Dois dias depois, em 12 de outubro, os Nets reverteram a situação com um triunfo apertado por 111-109, selando a série empatada em 1-1. A volta da NBA à região é mais do que um evento esportivo: é um sinal de reaproximação diplomática e comercial após o rompimento causado pela polêmica do tweet de Daryl Morey em 2019.
Um retorno histórico, com detalhes inesperados
A primeira partida começou às 20h de Macau (5h em Arizona), com os Suns em desvantagem tática: 11 acertos em 42 tentativas de três pontos (26,2%), contra 14 em 29 (48,3%) dos Nets. Mesmo assim, a equipe do Arizona se recuperou com força no final do quarto quarto. Com dois minutos restantes, os titulares foram retirados — e foi da bancada que veio a salvação: os novatos Khaman Maluach (10 pontos, 5 rebotes) e Rasheer Fleming mantiveram o ritmo, enquanto Jock Landale bloqueou três arremessos. A igualdade chegou aos 121-121 com dois lances livres de Jared Butler, e foi Jordan Goodwin quem decidiu na prorrogação com um arremesso de três pontos sob pressão, aos 13 segundos do tempo extra.
No segundo jogo, o cenário mudou completamente. Os Suns abriram 34-23 no primeiro quarto, com Devin Booker anotando 11 pontos e Dillon Brooks enchendo o ginásio com entusiasmo. Mas os Nets, liderados pelo rookie Tyrese Martin, não desistiram. Martin anotou oito dos seus 11 pontos nos últimos minutos, incluindo dois lances livres decisivos após ser faltado em uma tentativa de três pontos com apenas 2,8 segundos restantes. O lance foi o suficiente para dar aos Nets a vitória por dois pontos — e uma revanche merecida.
Estrelas e celebridades prestigiam o evento
A segunda partida atraiu nomes lendários do basquete e da cultura pop. Entre os espectadores estavam Vince Carter, Shawn Marion, Deron Williams, Stephon Marbury e Mitch Richmond, todos ex-jogadores da NBA com histórico de influência global. Também presente, o ex-jogador de futebol David Beckham e o astro asiático Jeremy Lin, cuja trajetória na NBA inspirou gerações na Ásia. O ambiente era de celebração — não apenas esportiva, mas cultural. O público, em sua maioria chinês, aplaudia com entusiasmo, mesmo quando os Nets estavam atrás por 15 pontos no terceiro quarto. Era visível: o basquete ainda é um dos poucos esportes que conseguem unir populações em meio a tensões geopolíticas.
As palavras dos líderes da NBA
Horas antes do primeiro jogo, o comissário da NBA, Adam Silver, fez declarações que ecoaram além das quadras: “Sim, jogos podem acontecer em outras partes da China, simultaneamente ao nosso arranjo em Macau.” Ele chamou a parceria com a Chinese Basketball Association (CBA) de “transformational partnership” — uma frase rara em discursos diplomáticos da liga. Já Michael Ma, presidente da NBA China, apontou para o futuro: “Estamos olhando para a região da Grande Baía (Greater Bay Area) como um território integral para expandir nossa missão de desenvolver o basquete na China.”
Ainda há quatro anos restantes no contrato entre a NBA e a Sands China, que mantém a operação do Venetian Arena. Mas o plano vai além. Silver mencionou que, com o lançamento planejado da NBA Europe em outubro de 2027, a liga está considerando a criação de uma estrutura semelhante na Ásia — algo que poderia transformar o basquete em uma liga continental, com equipes de China, Japão, Coreia do Sul e Filipinas.
Por que isso importa para a China e o mundo
Antes de 2019, a NBA realizou 13 jogos de pré-temporada na China. O incidente com o tweet de Morey, que apoiava os protestos em Hong Kong, levou à suspensão total das atividades da liga no país. Empresas chinesas cortaram patrocínios, transmissões foram interrompidas e a relação comercial, que movia bilhões, entrou em colapso. Agora, com o retorno em Macau — uma região autônoma com liberdades maiores — a NBA está testando o terreno. Não é apenas um jogo. É uma estratégia de reconstrução de confiança, sem tocar em temas políticos diretos.
Macau, apesar de ser parte da China, tem um sistema jurídico e comercial distinto. É um local seguro para negociar sem pressões diretas de Pequim. E o sucesso do público — mais de 15 mil pessoas por jogo, com ingressos esgotados — mostra que o interesse não desapareceu. A China ainda é o segundo maior mercado da NBA, atrás apenas dos EUA, com mais de 500 milhões de fãs estimados.
O que vem a seguir
As próximas etapas já estão sendo discutidas. Fontes internas da NBA indicam que, em 2026, a liga pode levar um jogo de pré-temporada a Xangai ou Guangzhou — cidades da Grande Baía. A ideia é criar um calendário anual com pelo menos dois jogos na região, alternando entre Macau e o continente. Além disso, a NBA planeja expandir seu programa de treinadores e academias locais, com foco em jovens de 12 a 18 anos. A CBA já sinalizou apoio a essa iniciativa, e o governo local de Macau anunciou incentivos fiscais para eventos esportivos internacionais.
Para os fãs chineses, o retorno da NBA é uma vitória emocional. Para a liga, é uma jogada de longo prazo — e arriscada. Mas, como disse um jovem torcedor de 16 anos, em chinês, enquanto segurava uma camisa do Suns: “O basquete não tem fronteiras. Só tem coração.”
Frequently Asked Questions
Por que a NBA escolheu Macau e não o continente chinês para o retorno?
Macau é uma região administrativa especial da China com sistema jurídico e econômico distinto, herdado do período colonial português. Isso permite à NBA operar com maior liberdade sem atrair diretamente a censura política de Pequim. O local já sediou um jogo em 2007 e tem infraestrutura consolidada, além de ser um destino turístico de alto perfil — ideal para testar o retorno sem riscos geopolíticos imediatos.
Quem foi o jogador mais decisivo na série?
Na primeira partida, Jordan Goodwin foi o herói com o arremesso de três pontos na prorrogação. Já na segunda, o rookie Tyrese Martin se destacou com oito pontos nos últimos minutos, incluindo os dois lances livres decisivos após ser faltado em uma tentativa de três pontos com 2,8 segundos restantes. Ambos são jogadores de bancada, o que mostra a profundidade das equipes e o valor da rotação na pré-temporada.
O que mudou desde 2019 para permitir esse retorno?
A NBA adotou uma abordagem mais cautelosa, evitando qualquer envolvimento em temas políticos sensíveis. Além disso, o governo chinês, após anos de tensão, parece estar mais aberto a reaproximações econômicas e culturais. A escolha de Macau, um local neutro, e o foco em desenvolvimento esportivo — e não em política — foram fatores-chave para o consenso.
Existe possibilidade de jogos em outros países asiáticos?
Sim. A NBA já expressou interesse em expandir sua presença na Ásia, com planos de criar uma liga continental semelhante à NBA Europe, prevista para 2027. Países como Japão, Coreia do Sul e Filipinas são candidatos naturais. O sucesso em Macau serve como modelo para futuros eventos em toda a região, especialmente se a China continuar a apoiar o basquete como ferramenta de soft power.
Como os jogadores chineses estão sendo impactados por esse retorno?
O retorno aumentou visibilidade para jogadores chineses na NBA. Zeng Fanbo, que estreou pelos Nets, é um exemplo — e outros 12 atletas chineses estão atualmente em academias da NBA ou em ligas de desenvolvimento. A liga também anunciou novos programas de treinamento em escolas chinesas, com foco em técnicas de jogo modernas e liderança esportiva, o que pode acelerar a chegada de mais talentos locais ao nível profissional.
Qual é o impacto econômico desse evento para Macau?
Estimativas locais apontam que os dois jogos movimentaram cerca de US$ 2,3 milhões em turismo, hospedagem e vendas de ingressos. Além disso, a exposição global — com transmissão em mais de 120 países — trouxe visibilidade para Macau como destino de eventos internacionais, o que pode atrair mais investimentos em infraestrutura esportiva e entretenimento nos próximos anos.
Gih Maciel
Macau foi a escolha certa. Se fosse em Pequim, já tinha sido cancelado com uma desculpa de 'problemas técnicos'. O basquete é mais forte que política.
Essa volta é um sinal de que o mundo ainda pode se falar mesmo quando os governos não querem.