Quando Priscila Cruz, presidenta-executiva da Todos Pela Educação analisou os números do Censo Escolar 2024, ficou evidente que, embora quase todas as escolas cearenses tenham energia elétrica, 65% das 5.932 instituições públicas ainda não contam com rede pública de esgoto. O contraste aumenta quando se olha para a rede privada: 81,3% das 1.690 escolas particulares já estão conectadas ao sistema sanitário municipal.

Contexto nacional e regional

Os dados foram publicados no Todos Pela Educação por meio do Anuário Brasileiro da Educação Básica 2025. Em nível nacional, o Ceará ocupa a 16ª posição entre as 27 unidades federativas, atrás de São Paulo, que lidera com 95,1% de escolas atendidas pelo esgotamento. No Nordeste, o estado supera Rio Grande do Norte (31,9%), Piauí (28,2%), Alagoas (26%) e Maranhão (8,8%), mas ainda fica atrás de Pernambuco, que registra 45,1%.

Essa disparidade evidencia um padrão de desigualdade estrutural que já era conhecido, mas que ganhou novas dimensões ao se considerar a crise climática. O calor extremo, cada vez mais frequente na região, combina-se com a falta de climatização nas salas de aula, agravando o cenário.

Detalhes dos indicadores de infraestrutura

  • Energia elétrica: cobertura próxima de 100% nas escolas públicas e privadas.
  • Esgotamento sanitário: apenas 34,9% das escolas públicas do Ceará possuem conexão à rede.
  • Coleta de lixo: 86,3% das escolas públicas recebem serviço regular, contra 99,8% das privadas.
  • Climatização: 34,2% das escolas cearenses têm algum sistema de refrigeração.

Quando se soma a rede pública e privada, cerca de 55% das escolas do estado ainda estão sem acesso ao esgoto. Essa falta afeta diretamente a higiene, a saúde dos alunos e, consequentemente, o rendimento escolar.

Vozes da pesquisa

"As ondas de calor que vivemos hoje reduzem a capacidade de concentração dos estudantes, sobretudo nos ambientes sem ventilação adequada", alerta Luciano Monteiro, presidente-executivo da Fundação Santillana. Ele destaca ainda que, segundo o Banco Mundial, alunos dos 10% municípios mais quentes do Brasil perdem em média 1% da aprendizagem anual, o que pode representar até 1,5 ano letivo perdido ao final do ensino médio.

Priscila Cruz complementa: "Não basta ter energia elétrica e água potável; a dignidade escolar passa também pelo acesso a saneamento e conforto térmico. Sem isso, o investimento em educação é, na prática, parcial".

Repercussões para a saúde e o aprendizado

Estudos da Organização Mundial da Saúde apontam que a falta de esgotamento aumenta o risco de diarreia e doenças respiratórias, duas das principais causas de ausências escolares no Nordeste. Em áreas urbanas de Fortaleza, onde a cobertura de esgoto nas escolas é a mais baixa do estado, os relatos de pais sobre filhos com problemas de saúde frequentes são recorrentes.

Além da saúde, o ambiente térmico influencia a memória de curto prazo. Uma pesquisa da Universidade Federal do Ceará (UFC) mostrou que estudantes expostos a temperaturas acima de 30°C têm redução de 12% na retenção de conteúdo em provas de matemática.

O que governos e gestores podem fazer

O que governos e gestores podem fazer

O Ministério da Educação já incluiu a ampliação do saneamento básico nas escolas como meta do Plano Nacional de Educação 2024‑2030. Contudo, a implementação depende de recursos estaduais e municipais. Em Ceará, o governo estadual anunciou, em dezembro de 2023, um orçamento de R$ 210 milhões para obras de esgoto em 500 escolas até 2026.

Organizações da sociedade civil, como o Todos Pela Educação, cobram transparência na aplicação desses recursos e sugerem a criação de um painel de monitoramento que inclua indicadores de climatização.

Perspectivas futuras

Se a tendência de calor continuada se confirmar, a demanda por sistemas de climatização nas escolas deve crescer. A própria Fundação Santillana já está testando unidades de ar‑condicionado solar para escolas em áreas rurais, o que pode representar um modelo replicável.

Em resumo, embora o Ceará tenha avançado na universalização da energia elétrica nas escolas, ainda há um longo caminho a percorrer para garantir saneamento e conforto térmico. Só assim o estado conseguirá transformar infraestrutura básica em aprendizado efetivo.

Perguntas Frequentes

Qual é a proporção de escolas públicas cearenses com acesso ao esgoto?

Apenas 34,9% das escolas públicas do Ceará têm ligação à rede pública de esgoto, segundo o Anuário 2025, bem abaixo da média nacional de 48,2%.

Como a falta de climatização afeta o aprendizado dos alunos?

Estudos apontam que ambientes acima de 30°C reduzem a retenção de conteúdo em até 12% e aumentam o absenteísmo por questões de saúde, comprometendo o rendimento escolar.

O que o governo estadual está fazendo para melhorar o saneamento nas escolas?

Foi anunciado um investimento de R$ 210 milhões para ampliar a rede de esgoto em 500 escolas públicas até 2026, além de criar um painel de acompanhamento com a sociedade civil.

Qual é a posição do Ceará no ranking nacional de escolas com esgoto?

O estado ocupa a 16ª colocação entre as 27 unidades federativas, ficando atrás de São Paulo, que lidera com 95,1% de cobertura.

Existem iniciativas privadas para melhorar a climatização nas escolas?

A Fundação Santillana está testando unidades de ar‑condicionado solar em escolas rurais, um projeto que pode ser ampliado se houver apoio governamental e financiamento.

Sobre Aline Rabelo

Sou jornalista especializada em notícias e adoro escrever sobre os acontecimentos diários no Brasil. Trabalho em um jornal renomado, onde busco sempre trazer uma perspectiva única e detalhada dos fatos. Acredito no poder da informação para transformar a sociedade.

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1 Comentários

Verônica Barbosa

Verônica Barbosa

É inadmissível que tantas crianças estudem sem dignidade sanitária!

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